Estudos da Organização Mundial da Saúde ainda apontam que por ano as consequências dos transtornos mentais provocam uma perda de US$ 1 trilhão para o mundo.

Amanda Medeiros / Círculo

Imagens e vídeo: Amanda Sampaio / Círculo

Seria errado afirmar que a ansiedade afeta todos da mesma forma, a psicóloga Helena Maria Segalla Cardoso discute até onde ser ansioso é considerável saudável: “Existe sim a ansiedade boa e a ansiedade prejudicial. A ansiedade boa é aquela quando você fica ansioso antes de uma prova, diante de um namoro que está começando ou quando organiza os preparativos de um evento.” A especialista conclui: “É uma ansiedade boa porque mobiliza para a ação, traz a proatividade.” Já sobre a ansiedade prejudicial: “(..) ela é tão intensa que tira a pessoa da realidade, a pessoa é tão focada no futuro que não vive o presente.” A psicóloga ainda complementa: “O ser mobiliza tanta energia para evitar um fracasso, que ele mesmo acaba causando aquele fracasso. Na psicologia nós chamamos de ‘A profecia que se auto cumpre’: você tem tanto medo de que algo aconteça ou não, que acaba direcionando justamente para aquilo.”

“Existe sim a ansiedade boa e a ansiedade prejudicial. A ansiedade boa é aquela quando você fica ansioso antes de uma prova, diante de um namoro que está começando ou quando organiza os preparativos de um evento.”

Helena Maria Segalla Cardoso, psicóloga

Sintomaticamente falando, a profissional classifica a ansiedade em níveis: “Quando a pessoa tem uma ansiedade pequena, às vezes ela mesma administra, indo na academia, andando de bicicleta. Quando a pessoa é muito ansiosa e já vai chegando a um nível patogênico, ela não consegue mais fazer isso, não consegue se desligar. Dessa forma, precisa de uma ajuda terapêutica com sessões semanais para aprender técnicas de relaxamento e controle de impulso.” Nos casos mais graves, Helena alerta: “Há a entrada de medicação psiquiátrica para a pessoa voltar com os níveis funcionais e ter uma qualidade de vida melhor.”

“O que caracteriza a ansiedade é a pessoa sempre viver com um pé no futuro, focada no objetivo de controlar e predizer o que vai acontecer. A pessoa pensa tanto naquilo, que acaba não curtindo a vida. Esse é o grande problema do ansioso: ele sofre tanto por antecipação que não consegue realizar aquilo que queria.”

A psicóloga alerta sobre os principais riscos: “Embora a globalização seja boa, esse acúmulo de informações e a tecnologia torna o mundo estressante. Essa última geração, que chamamos de ‘geração Y’, é muito imediatista, tudo é para ontem, vivem de maneira ansiosa.” A profissional salienta que as pessoas têm dificuldade para meditar, ficar sem fazer nada ou até mesmo ler um livro. “Parece que o mundo tem que estar sempre em movimento, mas cada pessoa tem que ter um momento para si”, acrescenta.  E os efeitos físicos são inevitáveis:  “Nós temos órgãos que somatizam esse nervosismo. Uma pessoa que vive ansiosa pode ter taquicardia, alteração de pressão e até ser conduzida para a síndrome do pânico. Mente e corpo devem estar em harmonia.”

“Nós temos órgãos que somatizam esse nervosismo. Uma pessoa que vive ansiosa pode ter taquicardia, alteração de pressão e até ser conduzida para a síndrome do pânico. Mente e corpo devem estar em harmonia.”

Desse modo, a especialista problematiza atos comuns do dia a dia: “A qualidade do sono para muitos jovens é muito precária, dormem com o celular do lado, estão sempre ouvindo o toque de notificações (..) você pode até estar dormindo, mas seu subconsciente está em semi-vigília e atento a todos esses barulhos. Além disso, comer correndo ou em pé regularmente, junto com essa moda de fast food, contribui para a diminuição da qualidade de vida.”

Para a profissional os índices de ansiedade tem aumentado progressivamente devido ao mundo globalizado e tecnológico em que vivemos: “Hoje é tudo ao vivo, o ser tem várias emoções mas ao mesmo tempo não pode fazer nada porque está a milhares de quilômetros de distância.”. O número de casos de ansiedade envolvendo crianças é o que mais preocupa a especialista: “Eles vivenciam tudo isso sem ter um preparo neurológico e emocional para entender. Antes as crianças eram mais poupadas.”

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a comunidade o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), mas segundo a psicóloga Helena Cardoso, a verba e as leis são insuficientes: “Eles delimitam 10 sessões para cada caso, e quando se trata de algo complexo, não tem como tratar da melhor forma possível.” E completa: “No SUS, a tendência é sempre medicar e mandar para casa.” Em Bauru, as universidades Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e Sagrado Coração (USC) promovem campanhas de assistência psicológica abertas ao público.

Em relação ao mercado de trabalho e as escolas, a visão da psicóloga é positiva: “Os progressos são lentos, mas eles existem. Na rede pública os diretores estão mais atentos a esses transtornos e tentam suprir o papel do psicólogo de alguma forma. As escolas particulares já possuem psicólogos porque os pais estão mais atentos e demandam.” Helena ressalta as diferenças na atuação do psicólogo de dez anos atrás e atualmente: “Antes o psicólogo era procurado mais em casos extremos como esquizofrenia ou alguma deficiência mental. Hoje já há muitos trabalhos com orientação, com certeza há um maior entendimento.”

Por fim, Helena oferece um conselho para os ansiosos: “Procurar terapia com algum psicólogo é o que mais ajuda. A terapia no caso da ansiedade, stress, depressão e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) tem sido muito eficiente pois existe a auto avaliação. Essa busca de se entender é muito importante para todo ser humano. Todos nós devíamos fazer terapia para se conhecer melhor.”

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