Da passagem da adolescência para a vida adulta, a rotina acadêmica e as incertezas do mercado de trabalho faz com que os estudantes convivam com o transtorno da ansiedade.  O problema muitas vezes  está associado a outros sintomas como  estresse, desânimo, a indisposição e irritabilidade.

Fernanda Rosa/ Círculo

Crises durante a adolescência, vestibular, faculdade, a entrada na vida adulta. Esses e outros fatores podem contribuir para o aumento no nível de estresse e desencadear a ansiedade em jovens. Ao contrário do que muita gente pensa, a rotina universitária pode exigir tanto quanto a profissional.

Entre os estudos, provas, trabalhos e estágio, é comum sentir-se cansado ou desmotivado. É o que aponta a psicóloga Fabiana Castagnato, “os principais fatores estressantes vivenciados pelos universitários estão relacionados à entrada efetiva na vida adulta, principalmente porque a grande maioria é composta por jovens recém-saídos da adolescência”. E, junto com o estresse, vem o desânimo, a indisposição, a irritabilidade, ansiedade… tudo para ajudar na sensação de esgotamento.

O esgotamento mental pode ser entendido como um esgotamento das forças mentais. “Os sintomas costumam diferir de pessoa para pessoa e, muitas vezes, são observados através do comportamento. Existe o indivíduo que está sempre cansado fisicamente, sem ânimo para qualquer atividade, aquele que, pelo contrário, vai a todas as festas e baladas, bebe e ‘abandona’ as responsabilidades acadêmicas, tentando ‘fugir’ do problema. Outro pode apresentar insônia, sono excessivo, ganho ou perda de peso também excessivos”, explica a psicóloga.

“Os principais fatores estressantes vivenciados pelos universitários estão relacionados à entrada efetiva na vida adulta, principalmente porque a grande maioria é composta por jovens recém-saídos da adolescência”.  Fabiana Castagnato, psicóloga

Duração e intensidade dos sintomas

O problema de fato, está na duração e na intensidade dos sintomas. Quando o estudante se sente cansado ou sem ânimo o tempo todo ou não há melhora na qualidade do sono e na alimentação, é hora de ficar um pouco mais atento. “É preciso observar se esse quadro evolui positiva ou negativamente com o tempo, se os sintomas vão se intensificando ou amenizando”, alerta Fabiana. Isso por que esses sintomas intensificados podem indicar algo mais grave: ansiedade e depressão.

Mas como diferenciar um nervosismo passageiro de um quadro mais grave de ansiedade? Preocupação é um sentimento comum diante de responsabilidades, principalmente durante a formação acadêmica. Mas, num nervosismo passageiro, o indivíduo fica preocupado, estressado, o semestre termina, ele se refaz e sente-se pronto para continuar. Num quadro mais sério, os problemas parecem não ter fim e mesmo após a finalização e entrega dos deveres, a pessoa continua estressada, com as mesmas dificuldades anteriores.

A estudante de Letras, Elioena Campos Oliveira, 22 anos, sofre com a ansiedade

Rotina e ansiedade

A estudante de Letras, Elioena Campos Oliveira, 22 anos, sofre com a ansiedade e conta como isso atrapalha durante os estudos: “Às vezes, não consigo nem olhar para a lousa e fico impaciente dentro da sala de aula. Interfere, principalmente, no meu sono, acabo dormindo demais ou não durmo nada, além da alimentação ficar desregulada”.

A rotina de Elioena é cheia de compromissos. Ela faz estágio na universidade de segunda a sexta e diz que seus horários para estudar são escassos. “Estudo mesmo só em semana de prova. Fora isso, é difícil. Acabo estudando no trabalho, entre uma tarefa e outra, se eu tiver tempo”, reconhece. A rotina agitada contribui significativamente no quadro da ansiedade. A estudante, que frequenta as aulas no período noturno, comenta que chega tarde em casa, precisa acordar cedo no dia seguinte e encarar todas as atividades. “Quando chego em casa, preciso de silêncio absoluto. Não posso escutar a voz de ninguém, não posso conversar com ninguém. Prefiro jantar sozinha, em silêncio, para eu poder analisar tudo o que aconteceu no meu dia”, ressalta.

Elioena ainda revela que sempre foi ansiosa, sofre com crises e já chegou a tomar medicação. “Já aconteceu de eu fazer uma prova à base de suco de goiaba, porque a ansiedade acabou atrapalhando a minha semana inteira e eu não conseguia comer, nada parava no meu estômago”, relata a estudante. Além disso, ela conta que também sofre de depressão: “Tudo isso acabou desencadeando a depressão, mas hoje tenho acompanhamento psicológico, faço terapia e consigo controlar a ansiedade”.

 

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