Brasil lidera o ranking de pessoas com o problema. Crises têm aumentado devido ao estilo de vida atual

Amanda Medeiros, Ana Giese e Bianca Pauline/Círculo

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que 33% da população mundial sofre de ansiedade. O Brasil lidera o ranking com a maior taxa do transtorno no mundo, além de ocupar a quinta posição em casos de depressão, ficando atrás somente da Ucrânia, Austrália, Estônia e Estados Unidos. 9,3% dos brasileiros possui algum transtorno de ansiedade e 5,8% são afetados pela depressão, a maioria mulheres.

As pesquisas revelam que o problema tem se tornado crônico, inviabilizando interações sociais e profissionais, tornando a rotina e a vida das pessoas algo ainda mais difícil de realizar, levando-as ao seu limite e, em muitos casos, exigindo a busca da ajuda de profissionais especializados.Em um segundo estudo, realizado em 2014 – o relatório São Paulo Megacity Mental Health Surve, a região metropolitana de São Paulo, aparece com a maior incidência de perturbações mentais do mundo. 29,6% dos paulistanos ou moradores da região sofrem de algum transtorno mental. O levantamento foi feito em 24 grandes cidades em diferentes países, e apontou que a ansiedade afeta 19,9% das 5.037 pessoas entrevistadas, seguidas por mudanças comportamentais e abuso de substâncias.

Segundo as informações divulgadas pelo estudo, o país que vem depois do Brasil, em segundo lugar, é os EUA, com 25% de incidência de perturbações mentais. E segundo os pesquisadores, os fatores responsáveis por essas perturbações estão relacionados à alta urbanização e privações sociais.

De acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento e o Código Internacional de Doenças (CID-10), a ansiedade é um transtorno e possui diferentes tipos: generalizada, persistente, mas não restrita ou mesmo predominante em quaisquer circunstâncias ambientais particulares; de pânico (ansiedade paroxística episódica), ataques recorrentes de ansiedade grave, que chega ao pânico, os quais não estão restritos a qualquer situação em particular e, portanto são imprevisíveis; e misto de ansiedade e depressão, utilizada quando as duas estão presentes mas nenhum conjunto de sintomas, considerados separadamente, é grave o bastante para justificar um diagnóstico.

“Eu diria que é mais um sintoma do que um transtorno, propriamente dito, porque ela acompanha uma série  transtornos”, destaca Helena Maria Segalla Cardoso, psicóloga na cidade de Bauru. A mesma alega que isso acontece por conta de a ansiedade estar presentes em diferentes transtornos, principalmente os tipos emocionais.

Um entre milhões

“Diria que temos uma relação de amor e ódio como outra qualquer. E convivemos assim. O que mais me deixa nervoso são os limites, eu realmente odeio limitações”, disse Kahue Guilherme Santos (25), estudante que sofre com o transtorno de ansiedade há mais de 13 anos. Ele conta que a doença sempre restringiu suas ações e interações pessoais, mas que luta contra ela diariamente para que sua voz não fique perdida entre todas as sensações e comportamentos opressivos proporcionados por ela, e que até agora tem conseguido, mesmo que ela afete todas as camadas de sua vida: física, espiritual, pessoal, relacional e profissional. “É algo que se alastra como tumores”, completa.

“A priori, quando descobri que sofria do transtorno de ansiedade grave junto de síndrome do pânico e fobia social, era uma grande montanha russa e eu não entendia nada. Ainda muito novo não sabia muito bem o cerne das coisas também. […] Esses distúrbios afetam a vida da gente em todas as esferas, não é algo que se restringe ao pessoal, é totalmente abrangente, e, não só nos fere como fere todas as nossas relações. É um cotidiano embaralhado e diferente, onde as dores psicológicas se tornam físicas e você sente como se cada coisa ruim que você pensasse naquele momento se tornaria prontamente real”, diz Kahue.

 

 

Kahue Guilherme Santos, sofre com a ansiedade faz 13 anos. Foto: Adie Mathias

O jovem que atualmente não faz nenhum tratamento psiquiátrico, conta que foi a mãe quem decidiu levá-lo  a um psiquiatra em busca de ajuda, e que sempre tem crises, além de estar pronto para tê-las, mas que agora tem um maior controle sobre elas e assim elas parecem de menor intensidade, comparadas as de antes. “Sempre temos crises, nós que sofremos do distúrbio da ansiedade. É a doença do “e se”, portanto algo que nos acompanha. Mas, antes de descobrir que não tinha nenhum problema cardíaco devida as dores no peito, tive crises terríveis onde tinha absoluta certeza de que iria, prontamente, infartar e morrer. Era terrível. Sempre é”.

Os motivos que levam ao desenvolvimento do transtorno, os chamados gatilhos pelos especialistas da área, são muitos e variam de pessoa para pessoa. No entanto, o que se sabe é que aqueles que costumam a desenvolver o transtorno de ansiedade, são pessoas que tinham uma predisposição a ele e quando colocados frente a uma situação de grande impacto, como consequência acabam por acioná-lo.

E apesar de ser classificada como patológica, existem alguns aspectos da ansiedade que ainda são desconhecidos e por isso as pessoas devem procurar por especialistas que possam prestar a devida assistência.

Os sintomas físicos da ansiedade consistem em sudorese, taquicardia, falta de ar, dor de barriga, entre outros. Já os sintomas psicológicos são caracterizados por preocupação excessiva, medo, inquietação, falta de concentração, entre outros.

É difícil dizer quando a ansiedade é normal ou patológica, já que é algo subjetivo. Porém, há dois parâmetros que podemos utilizar para ter uma noção da gravidade da ansiedade: a intensidade e a duração. Ou seja: ficar ansioso antes de prestar uma prova para um vestibular é considerado normal desde que depois de finalizada a prova os sintomas da ansiedade desaparecem. Porém, se esta pessoa se sente ansiosa em outras situações do cotidiano além da prova, e se esta ansiedade atrapalha nas atividades diárias, é necessário procurar ajuda com um profissional.

A estudante de psicologia Bianca de Fátima Rodrigues também sofre com a ansiedade

A estudante de psicologia da USC, Bianca de Fátima Rodrigues, também convive com o problema. “A minha ansiedade se dá em forma de preocupação excessiva, sem sintomas físicos. Se há um trabalho para ser entregue daqui um mês, ou uma atividade prévia que deve ser entregue dali uma semana, procuro fazer o quanto antes. Uns podem pensar: “Ah, que legal, você é antecipada, queria ser assim!” . Porém não é bem assim, pois me sobrecarrego de coisas para fazer não aproveitando muito o aqui e agora, haja vista que estou sempre pensando em quais tarefas tenho que fazer” afirma.

Para ela, que também atua no acompanhamento de pacientes com o transtorno, a psicoterapia é eficaz em todos os graus de ansiedade. “Se este grau for de leve a moderado (dependendo de cada caso) não é necessário intervir com medicamento e só a psicoterapia já basta. Porém, se for um grau de moderado a grave comumente se utiliza a combinação da psicoterapia com medicamentos”, completa.

Na opinião da estudante, o número de pessoas com crises de ansiedade têm aumentado devido ao estilo de vida atual. “A sociedade em que vivemos é muito imediatista, fato que pode levar ao estresse e a outros sintomas que podem desencadear uma ansiedade”.

 

Saiba onde e como procurar ajuda em casos de ansiedade