A série Thirteen Reasons Why discute o polêmico suicídio da adolescente Hannah Baker, personagem interpretada pela atriz Katherine Langford. (Foto: Divulgação/Neflix)
Tiffany Pancas e Mariana Miranda/Círculo
O jogo da Baleia Azul surgiu em 2013 em uma rede social russa. Acredita-se que o criador foi Flipp Budeykin, e seu intuito ao realizar os desafios era fazer uma “limpeza na sociedade.” A “brincadeira” cresceu tanto que até em outros países foram relatados casos de jovens que se suicidaram por participarem do Blue Whale – como também é conhecido.
O jogo exige que os participantes realizem 50 desafios, como a automutilação, isolamento social, atividades feitas no meio da madrugada e por fim o suicídio. Foi o que ocorreu com jovem Maria de Fátima da Silva Oliveira de 16 anos encontrada morta em abril no Mato Grosso. Antes do acontecimento, ela deixou duas cartas que falava sobre as regras e a cronologia das ações.
Outros casos como de uma jovem de 15 anos que se jogou de um prédio e outra de 14 que se atirou na frente de um trem na Rússia fizeram com que a população mundial ficasse alerta diante de um problema que ainda é um tabu em vários lugares do mundo, assim como no Brasil: o ato de tirar a própria vida.
Segundo um Estudo elaborado com os dados do Governo Federal pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLASCO), entre 1980 e 2014 a taxa de pessoas entre 15 a 28 anos que tiraram a própria vida aumentou 26%. De acordo com o levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) um número ainda mais assustador aparece: a cada 40 segundo uma pessoa se suicida.
NA FICÇÃO
Thirteen Reasons Why (foto em destaque) é uma série americana, baseada no livro de Jay Asher, que retrata bastante a fase adolescente e os desafios que muitos jovens precisam encarar. A série que estreou em 31 de março deste ano no Netflix com roteiro de Brian Yorkey conta a história de Hannah Baker personagem principal da série, interpretada pela atriz Katherine Langford, passa por vários problemas, como bullying, assédio, machismo, violência sexual, que levam a por fim em sua vida. Antes de morrer deixa 13 fitas cassetes para as 13 razões que a fizeram a tirar sua própria vida.
A produção foi alvo de críticas por ser acusada de incentivar o suicídio. Polêmicas a parte, Os treze porquês (tradução do título para o português) tem como mérito discutir a questão com uma linguagem próxima dos adolescentes. Para psicóloga Amanda Dias, formada na UNESP de Assis, não existe melhor maneira de abordar um tema tão polêmico. “Não é possível tirar a importância de uma série que quebrou tanto tabu e ousou em falar sobre suicídio mesmo que algumas questões que foram mostradas pudessem ser tratadas de forma diferente”, afirma. Amanda ainda cita que incentivar o ato é crime, mas falar abertamente permite que o sofrimento seja expressado e pode inclusive ajudar a evitar o problema.
“Conscientizar a sociedade de que o suicídio é um problema real e é preciso que todo mundo trabalhe junto para que seja possível ajudar a reduzir a taxa de suicídios e ajudar as pessoas que passam por um sofrimento tão grande que veem o suicídio como única saída”, acrescenta.
A psicóloga ressalta as dificuldades que os adolescentes enfrentam durante esse período visto que eles precisam
questionar e ressignificar o lugar que nossos pais nos inseriram durante a fase infantil. Além das diversas exigências que causam a crise da adolescência normal que tende a ser superada sem maiores problemas, mas que pode ser acrescida por angústia e ansiedade e pode ser incapaz de ser superada.
“A adolescência é uma fase muito impulsiva, por isso é importante que a família e os amigos fiquem sempre atentos para a forma como essa fase está sendo vivida e a forma como essa crise está sendo vivida. No entanto, o suicídio é um fenômeno global que atinge sujeitos de todas as idades, classes sociais, sexo, gênero e raça”, diz. Mas algumas questões sociais podem contribuir ainda mais para o aumento da taxa de suicídio em determinadas populações, por exemplo, o machismo, racismo, LGBTfobia e a desigualdade social.
Para a psicóloga, é difícil identificar que alguma pessoa está tendo pensamentos suicidas, mas os pais precisam ficar atentos a mudanças de comportamento, humor, alteração de sono, de apetite e procurar se mostrar sempre interessado na vida escolar e pessoal dos filhos sem ser invasivo. O adolescente pode estar sendo vítima de bullying, por exemplo, e não ter coragem de contar para alguém, visto que os adultos são vistos como aqueles que não se importam com os problemas dos mais novos, principalmente dos adolescentes que são considerados rebeldes sem causa.
Muitas tentativas de suicídio são uma maneira de pedir ajuda e por isso comentários do tipo “só quer chamar atenção” pode ser muito maléfico e se ela quer chamar atenção é porque ela precisa de atenção, precisa de ajuda, de socorro, então a melhor maneira de ajudar é não ver o sofrimento do outro como algo banal ou frescura, é preciso entender o que está causando esse sofrimento e depois incentivar a procurar ajuda de especialistas, profissionais de psicologia e psiquiatria para ligar no Centro de Valorização da Vida (141).
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