Felipe Matheus/Círculo

Fim de ano, Exame Nacional do Ensino Médio e maratona de vestibulares faz com que as escolas públicas e cursinhos pré-vestibulares se adaptem e tentem reforçar o conteúdo cobrado em vestibulares para auxiliar os alunos a se sentir mais seguros durante as provas.

Em Bauru, a Escola Técnica (Etec) Rodrigues de Abreu tem em uns dos seus projetos o “Aulão Enem”, onde professores fazem revisões e passam alguns conteúdos e dicas aos vestibulandos preparando-os para o Enem. Segundo o professor da escola que também participa do projeto Germano Tobias, 35 anos,” a escola tem procurado se adaptar ao período. “Nossa grade já habilita o aluno a prestar vestibular, tanto como uma formação tecnológica, quanto uma formação para vida nos estudos. Recentemente aqui implantamos essa preparação, tivemos algumas atividades diferentes, direcionados ao Enem, como as aulas preparatórias em todas as áreas”, afirma

Germano explica que a área de exatas é hoje uma das maiores dificuldades para o vestibulando. ”A matemática está dividida em sete competências pelo Enem e dessas competências tem 30 habilidades a serem cobradas. Por esse índice grande, o Enem acaba tendo uma quantidade muito grande de questões, são 90 questões, então essa acaba sendo a grande dificuldade”.

GERMANO

Professor Germano Tobias leciona a sete anos na Etec Rodrigues de Abreu

Michelle Devides, de 35 anos, faz parte do projeto dando aulas de português. Há seis anos na Etec e leciona redação faz seis, ela explica que hoje o diferencial para um aluno se sair bem nas provas é o estudo. “Em primeiro lugar o aluno tem que ter autonomia, ter responsabilidade, é preciso  ter o interesse, ligado a isso , ter uma boa condição  de formação e informação, os caminhos para pesquisa, isso é o papel da escola, ao professor cabe auxiliar o aluno.” Michelle destaca a importância do aluno hoje além de se preparar para os conteúdos cobrados, dar uma atenção especial  a redação que acaba sendo temida por muitos vestibulandos. “Você saber se expressar, ter argumentos, validade sua tese é muito importante em qualquer contexto, o Enem cobra o domínio da escrita e muitos alunos não se preocupam em manifestar isso por escrito, a redação é temida porque os alunos não se preparam, não tem informações suficientes, é tudo muito superficial, então essa superficialidade acaba atrapalhando na exposição das opiniões”.

Michelle

Professora Michelle também faz parte do projeto Aulão Enem. FOTOS: Felipe Matheus/Círculo

O Cursinho Primeiro de Maio, que este ano comemora 16 anos de existência, atende alunos de escola pública e também particulares. O projeto possui aulas no período da tarde e noturno é uma iniciativa alcançada de extensão universitária da UNESP. Com um percentual de aprovações de 95%, o cursinho tem aulas com ex-alunos que são universitários conta Aldine Campos, de 23 anos. coordenadora pedagógica e também ex–aluna. “A importância dessa integração entre os ex-alunos que trabalham no cursinho e os alunos é extrema. Possibilitar que pessoas assim como eu entrem aqui em uma universidade pública é sensacional”.

O vestibular sempre foi um impasse aos alunos de escola pública. Aldine que já passou por isso  conta que essa barreira está diminuindo e que não seja a maior dificuldade. “Primeiro por causa das cotas, foram uma decisão bem importante para democratizar o ensino aqui na universidade. O mais difícil de passar no vestibular é se manter então muitos alunos entram na graduação mas eu acho que o mais difícil é eles saírem se formarem” .

Aldine é coordenadora pedagógica do cursinho

Aldine é coordenadora pedagógica do cursinho.

 

Também ex- aluno e atualmente professor de biologia do cursinho, Rodolfo Ferreira, de 21 anos, afirma que cada vez mais os alunos sofrem pressão para passar no vestibular, tanto por conta dos pais, amigos e até uma pressão por si mesmo. “O aluno ter que decidir a carreira que seguirá pelo resto da vida as 17 ,18 anos é um fardo muito grande, o que acaba acarretando uma pressão gigantesca nas costas destes alunos”, diz. “A melhor maneira de se preparar para o vestibular é estar leve, tentar diminuir as pressões, estudar com gosto e entender tudo o que se está aprendendo, dar um jeito para tudo aquilo fazer sentido, a “decoreba” não ajuda, quem decora esquece, mas quem entende, leva para o resto da vida”.

Rodolfo

Rodolfo da aula no cursinho a dois anos

Lidando com a pressão

O aluno do cursinho primeiro de Maio Alex Felipe, de 19 anos, começa sua preparação bem cedo, mais precisamente às seis da manhã. Ele tenta pela segunda vez o vestibular de medicina e explica como conseguir conciliar a vida pessoal, os amigos e a ansiedade pelas provas chegando:” Eu estou tentando desde ano 2014, minha rotina começa bem cedo, faço exercícios e revisões diárias tanto no cursinho quanto em casa”.

Alex

Alex se concentra nas aulas do cursinho

Alex conta que está lidando bem com a pressão.  “Hoje não me sinto muito pressionado, eu estou na tentativa desde 2014. Você acaba perdendo esse nervosismo. Às vezes a ansiedade aparece antes das provas, mas aos poucos ao longo da sua trajetória você vai perdendo isso. Eu tento sempre controlar, na medida do possível, me divertindo com alguns jogos, séries, praticar exercício como andar de bicicleta, ajuda aliviar um pouco o estresse”.

Colega de Alex no cursinho primeiro de maio, Alef Yussef Ribeiro, de 18 anos, também contou a sua expectativa sobre o vestibular, ao tomar a difícil decisão sobre o curso seguir, a influência da carreira do pai, deu uma força para a escolha.

Alef

Alef pretende cursar engenharia

“Meu pai é mecânico e eu sempre convivi com ele na oficina, ele me ensinou muita coisa, só que eu nunca quis parar só nisso, então convivendo com alguns alunos aqui na UNESP e vendo em feiras, na internet eu vi a engenharia mecânica, gostei muito mais dela porque é a engenharia que se faz na prática”. O aluno fala que começa a estudar bem cedo, mas frisa a importância de relaxar um pouco. “De  tarde eu venho na aula aqui no cursinho, de manhã eu me dedico ao estudo com vídeo aulas e utilizo o  material do cursinho, mas de noite eu fico mais a vontade. Não estudo muito porque acho importante não dar uma saturada”, conta o estudante que também afirma que o nervosismo aumenta com a proximidade do vestibular.

A psicóloga Lélia Emika Eto, de 45 anos, conta que a fase em que os alunos vivem pode ser marcada por esses problemas. “Estudos indicam que os principais distúrbios que os exames seletivos provocam nas pessoas são: medos, insônias, dúvidas, estresse e, principalmente, ansiedade, esta última talvez seja, inclusive, consequência das anteriores e, em alguns casos, tem alunos que podem vir a sofrer de depressão”, diz.  A psicóloga destaca que essa pressão gerada pelas cobranças da família e da sociedade, pode ou não, atrapalhar o rendimento do aluno. Segundo ela, isso dependerá da forma como ele conseguirá administrar isso dentro de si. Afinal, toda essa situação gera ansiedade no estudante, mas essa ansiedade pode ser usada para motivar o organismo a se preparar para enfrentar os exames seletivos. “O grau e a intensidade da ansiedade é que definirá se tal estado ajudará ou prejudicará o desempenho do aluno em todas as etapas do processo seletivo”.

Para tentar solucionar esse problema a psicóloga formada em 2015 dá uma dica clara aos vestibulandos. “Uma boa estratégia é buscar o máximo de informações possíveis e conversar sobre seus medos, suas inseguranças e preocupações, seja com os amigos, com seus familiares ou até mesmo com profissionais, como professores, orientadores vocacionais, psicólogos e aqueles que já trabalham na área escolhida pelo aluno para cursar na universidade. Isso não impedirá que o estudante sofra, por exemplo, de ansiedade, mas ajudará a enfrentar essa fase com mais recursos internos”.