Espetáculo foi o formato adotado por alunos do primeiro ano de Jornalismo para apresentar seminário na disciplina Análise do Discurso

Mayrilaine Garcia

PRECONCEITO LINGUISTICO (2)

Alunos apresentam peça sobre Preconceito Linguístico

Uma peça de teatro foi o formato escolhido por alunos do primeiro ano de Jornalismo para debater o tema preconceito linguístico como seminário da disciplina Análise do Discurso, ministrada pela professora Jéssica de Cássia Rossi.
O preconceito linguístico envolve o julgamento de sotaques ou quaisquer palavras ditas de maneiras diferentes e tidas como erradas pela população escolarizada.
Os seminários da turma foram baseados no livro “Preconceito Linguístico – O que é, como se faz”, de Marcos Bagno. A obra revela o comportamento preconceituoso diante às variantes formas faladas da Língua Portuguesa.
No livro, Bagno revela oito mitos sobre o assunto. Cada mito foi abordado por um grupo de alunos da disciplina, que é ministrada para os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda.
“Existe uma desvalorização das pessoas que falam diferente e com o seminário, baseado no livro de Marcos Bagno, tentamos desmitificar tais costumes de inferiorização dessas pessoas e mostrar que as pessoas falam de acordo com seus costumes e conhecimentos e isso não pode ser considerado errado”, relata a professora Jéssica.
Pensando nisso, os alunos Ednan Gomes, Guilherme Lima, Loyce Policastro, Juliana Neves, Monique Claro, Maicon Oliveira, Renata Alves e Thayná Fogaça, decidiram conciliaram o seminário com a peça teatral para abordar o tema “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”.
Para tanto, o grupo baseou-se na peça “A língua de Eulália”, que conta a história de Eulália, personagem que sofre preconceito de três estudantes por falar de forma considerada errada por elas.
Trechos do livro foram adaptados para ilustrar o tema do trabalho, de forma a imprimir clima descontraído na apresentação, desvendando aspectos da realidade que passam despercebidos, como palavras faladas fora da norma da Língua Portuguesa, resultando em preconceito.

 

Reflexões

A aluna Renata Alves encenou Eulália. Por meio da personagem, que não falava formalmente, avaliou que tinha a mania de corrigir pessoas que falavam diferentemente.
“Estar na pele do outro me fez pensar e repensar meus conceitos. É sempre bom desconstruir preconceitos e a personagem Eulália me ajudou com isso. Agora eu vi que a abrangência do preconceito linguístico é muito maior do que a que eu imaginava. Entendi que o uso da norma culta e da gramática se tornou um meio de controle de massa para dividir os que falam certo dos que falam errado, colocando estes em posições inferiorizadas”, explica Renata.
O mais interessante, diz a aluna, foi aprender que é a gramática que serve a língua e não o contrário. “Uma gíria, com o passar do tempo, pode entrar no dicionário, um modo de falar pode mudar uma regra gramatical, mas as pessoas não mudam sua forma de falar por causa da gramática”, afirma.
Para os estudantes, a apresentação do trabalho foi muito importante, principalmente por ser apresentado por e para alunos da área da Comunicação, que irão trabalhar a fala e língua constantemente.
“Consegui aprender muitos pontos interessantes sobre o preconceito lingüístico, por exemplo, a existência do Português Padrão que é o ensinado nas escolas e o Português não padrão que é a forma de falar das pessoas que não falar no padrão. Eu tinha sim um pouco de preconceito. Depois, fazendo o trabalho eu consegui entender as ideias do Marcos Bagno sobre tema: não é porque a pessoa fala de forma ‘errônea’ que ela deve ser corrigida ou marginalizada, pelo contrário, tudo o que ela diz carrega a sua ideologia e um pouco do seu ser, por isso deve ser respeitada e integrada à sociedade como os outros indivíduos, sem distinções”, relata Ednan Gomes.
“A peça me fez lembrar algumas pessoas que conheci e que conheço que falam como a Eulália na vida real. Perceber que a real ignorância estava em mim é um choque de realidade e com certeza a leitura dos livros do linguista Marcos Bagno me ajudou a evitar ser preconceituosa de novo”, finaliza Renata.