O Enem  2015  levantou reflexão ao trazer tema na redação e abordar questão com uma das principais frases do movimento feminista

Mariana Fadel Camargo

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trouxe à tona “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” como tema da redação de 2015. O exame foi realizado nos dias 24 e 25 de outubro por estudantes que desejam ingressar em um curso superior em 2016.

No primeiro dia de prova havia uma questão que citava a pensadora francesa Simone de Beauvoir , autora da obra “O Segundo Sexo”,  lançada em 1949, que discute o existencialismo feminino na sociedade patriarcal. Nas redes sociais, as opiniões sobre o tema ganharam discussões calorosas.

Segundo a estudante Giovanna Gori de Oliveira, ver o tema da redação foi emocionante. “Confesso que para mim, que sou feminista assumida, foi emocionante ver aquele tema e  saber que mais de 6 milhões de alunos estavam lendo, pensando e refletindo sobre aquele assunto”.

O tema da redação também recebeu comentários machistas nas redes sociais. A estudante Carolina Breda se surpreendeu com o que foi dito sobre o assunto. “Nós, como mulheres, sabemos como está presente a violência no nosso dia a dia e vemos que muito pouco anda sendo feito para reverter tudo isso. Então achei uma escolha muito importante, muito séria e que pela primeira vez foi abordado um tema presente e que necessita de um olhar mais detalhado.”

Mapa da Violência 2015

De acordo com o Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil, estudo elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), divulgado no dia 9 de novembro, em 2013, 13 mulheres foram mortas por dia no país, em média, um total de 4.762 homicídios. O país tem taxa de 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres, a quinta maior do mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde que avaliaram um grupo de 83 países. De 1980 a 2013, foram vítimas de assassinato 106.093 mulheres. Entre 2003 e 2013, o número de vítimas do sexo feminino passou de 3.937 para 4.762, incremento de 21,0% na década.

Com base em dados de 2013 do Ministério da Saúde, 50,3% das mortes violentas de mulheres são cometidas por familiares. O Mapa da Violência é um trabalho desenvolvido pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz que, desde 1998, divulgou 27 estudos. Todos eles, segundo a Flacso, trabalharam a distribuição por sexo das violências, sejam suicídios, homicídios ou acidentes de transporte, mas em 2012, dada a relevância do tema e as diversas solicitações nesse sentido, foi elaborado o primeiro mapa especificamente focado nas questões de gênero.

Empoderamento feminino

O empoderamento feminino é necessário e cada vez mais vem tomando força no país. Um exemplo atual é a hashtag #meuprimeiroassédio, idealizada pelo coletivo feminino “Think Olga” após a polêmica da participante Valentina, do programa MasterChef Júnior. A garota teve seu nome citado em vários comentários online que a sexualizavam, Valentina tem apenas 12 anos. A campanha conta com mais de 82 mil tweets de mulheres dividindo suas histórias do primeiro assédio que se recordam, a média de idade é de 9,7 anos.
Na ultima sexta-feira (30), mulheres de todas as idades tomaram a Avenida Paulista para protestar contra o projeto de lei que “Tipifica como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo e prevê penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto”.

Lei Maria da Penha

A lei que criminaliza a violência contra a mulher entrou em vigor no Brasil em 2006 e é conhecida como “Lei Maria da Penha”. Maria da Penha foi uma brasileira que sofreu violência doméstica em 1983 e depois de muita luta conseguiu fazer com que seu marido fosse punido, 19 anos depois.