Por Tiago de Moraes

Ilustração Tiago de Moraes.

Ilustração Tiago de Moraes.

Um dos meus lugares favoritos de passear quando guri era o terminal Rodoviário de Bauru. Talvez porque nas cidades pequenas em que morei, ao longo da vida, os terminais de ônibus eram tediosos ou porque eram assustadores mesmo. Para um pirralho de 1 metro e meio de estatura, o terminal rodoviário de Bauru era imponente, tinha uma passagem maneira para a ala dos bilhetes, cafeterias decentes e gente de tudo o que é tipo. Mantive essa visão imaculada até conhecer um terminal rodoviário ainda mais faraônico: o de São Paulo. E sem rodeios, aquele biombo de lá que vende castanhas, amendoins, nozes e macadâmias conquistou o meu coração.

            Recentemente, ao passar pelo Terminal Rodoviário de Bauru, percebi como essas lembranças me afetavam quando menor. E assustado de como a finitude da minha memória já tinha se incumbido de apagar muitos bons momentos que eu vivi no lugar. Nunca disse adeus ali, ou despedidas dolorosas e abraços de saudade. Somente acompanhava o meu pai comprar bilhetes para suas viagens a trabalho, uma vez ao mês. No terminal rodoviário, meu passatempo favorito era a observação, fascinava-me o papel de testemunha ocular de histórias que não me pertenciam.

            As conversas dos peões debaixo da sombra, a história do mochileiro ruivo com um violão cautelosamente guardado, a senhora de aparência frágil sendo recepcionada por sua filha e o destino de um homem de meia idade, todo tatuado e aparentemente perdido. Queria abordá-los, saber mais sobre a vida deles do que eu via ali, no terminal. No entanto, obedecia minuciosamente a ordem expressa de não conversar com desconhecidos. No fim das contas, na vida adulta, o Terminal Rodoviário perdeu sua mágica. Assim como muitas outras coisas de quando era criança.

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Tiago de Moraes é estudante de jornalismo, músico, típico sobrinho de design gráfico e míope 24h por dia. Escreve sempre aos domingos. (twitter: @moraestiago_)

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“O universo das pessoas minúsculas” (upm) se refere a pessoas comuns, com rotinas comuns, que aparentemente estão fora do palco de ação, diminuídas pelos desmandos políticos, injustiças e exclusão social. A ideia é trazer o universo dessas pessoas, reflexões,  bem como as pequenas ações que não ganham espaço nos noticiários, mas que  melhoram, de forma sensível, o espaço à sua volta.