Sabrina Azevedo na batalha de poesias no Rio de Janeiro. Foto: Fernando Santos.
Poetas relatam o poder da poesia na sociedade em que estão inseridas
Mariana Miranda / Círculo
Slam é uma batalha de poesias em que é recitado oralmente textos originais. Surgiu em Chicago, nos Estados Unidos, na década de 90 e hoje é realizado em diversas partes do mundo. As competições no Brasil contam com apresentações de até 3 minutos, sem qualquer instrumento, e o júri, formado na própria plateia, dá notas de 0 à 10 e elegem o campeão. Ao final do ano, é realizado uma competição nacional com os vencedores regionais. Sabrina Azevedo, de 24 anos e Pollianna Oliveira, de 18, são poetas e contam sobre a experiência de fazer parte das batalhas.
Sabrina é de Jacarepaguá, Rio de Janeiro. É campeã do campeonato carioca de 2017 e em dezembro representou seu estado na competição nacional, ficando em terceiro lugar. na semifinal. Foi criada em duas favelas, o morro da Caixa e o da Covanca, e, apesar de uma infância feliz, encarou uma realidade de tiroteios e morte de amigos que tirava a sua inocência de criança. “Eu comecei a lidar com o luto cedo, na pré-adolescência ainda, era um amigo atrás do outro morrendo. Eu cresci com tudo isso na cabeça, com tudo que vivi e hoje eu relato tudo isso nas minhas poesias”, descreve. Portanto, Sabrina busca mostrar tudo o que vive para tentar abrir a mente de quem fecha os olhos e se acomoda diante à situação em que o país se encontra.
Apesar de participar das competições, ela não escrevia antes, apenas fazia músicas. Foi um vídeo da poeta Mariana Félix, em 2017, que a incentivou a começar escrever e depois da primeira poesia, foi para o Slam. Agora, ela busca mostrar a realidade e como é possível mudá-la. “Fiz uma poesia falando sobre violência doméstica e a mãe de uma amiga se identificou pois vivia o que eu falava na poesia, então disse que aquilo tocou muito ela. Nesse poesia eu falo sobre a reação de uma mulher após anos de violência doméstica, eu incentivo mulheres que sofrem com isso a lutarem e irem atrás de sua liberdade”, conta.
Como também é produtora de eventos, teve a ideia de criar um novo coletivo de poesias: o NósDaRUA e na última segunda-feira de todos os meses, ela organiza Slams do grupo. Além de fazer parte de um outro coletivo chamado Poetas Favelados, em que faz ataques poéticos pela cidade.
Sabrina ainda relata os desafios de uma mulher negra fazer poesia: “Muitos ainda se sentem surpresos, nunca esperam isso”. No entanto, tem como referência a máxima: “Lugar de mulher é onde ela quiser”, e sobre nos palcos para representar todas as mulheres e toda a sua ancestralidade, para falar da luta de todas que foram escravizadas, que lutaram e que fizeram a diferença. Sua poesia é feita de mulheres que a inspiram para inspirar outras.
Sabrina Azevedo recitando poesia no Rio de Janeiro. Reprodução: Rômela Batista
Polliana, também do Rio de Janeiro, faz faculdade de Design de Moda graças ao ProUni (Programa Universidade Para Todos), programa criado pelo Ministério da Educação em 2004, que tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação em instituições privadas de educação superior. Seu interesse pela poesia surgiu através da sua professora de português, que a partir dos textos que liam, descobriu coisas absurdas que acabaram por aguçar seu interesse no meio artístico. Foi na escola, também, que participou do seu primeiro Slam. A partir de então, não parou mais. Foi para a Festa Literária das Periferias (Slam da Flupp) e representou o Rio de Janeiro no Campeonato Brasileiro de Poesia Falada (Slam BR) que foi realizado, em dezembro de 2016, em São Paulo.
A poesia, de acordo com Pollianna, ajuda as pessoas a se expressarem e mostrarem como são, sem medo de serem elas mesmas. “No começo é sempre muito difícil mas, a cada dia que passa, a única coisa que eu mais tenho certeza é de que tá tudo errado, política, educação, sociedade patriarcal e isso me dá mais raiva e vontade de escrever”, diz. Conjuntamente, a poesia engaja a população mais pobre em política e arte, pois é algo exclusivo para os mesmos. É na poesia marginal, com palavras de fácil entendimento, que a população de baixa renda busca saber o que está acontecendo.
Seu foco é a resistência por melhorias públicas e feminismo. Quando começou no Slam, ela conta que não conhecia nenhuma mulher que participava das competições e que nunca tinha visto uma MC de Rap: “Foi horrível e opressor demais pra mim, mas eu segui e cada vez mais sendo apoiada pelos meus amigos, porém houve episódios em que fui julgada ao recitar uma letra que retratava o machismo institucional que meus amigos possuíam. É muito difícil ser mulher e ser poeta, mas a cada dia que passa todo mundo está vendo o quanto somos e sempre seremos ótimas”.
Poesia de Pollianna Oliveira na praça Mauá, também no Rio de Janeiro. Reprodução: Fernando Salinas.