Secretaria Estadual de Cultura anuncia o fechamento da Oficina Cultural “Glauco Pinto de Moraes”; nas ruas, artistas pedem contra o fechamento

_DSC9052

 Por Adham Marin

“Querem fechar a Oficina Cultural; Jogar no lixo a sua memória; Sem o polo de arte, formação regional; Bauru esquece sua história”.

Na manhã de sábado, 28, uma centena de pessoas cantava esses versos em cortejo pelo centro de Bauru. Sob os batuques do maracatu, artistas e militantes cantaram, dançaram e se manifestaram contra o fechamento da Oficina Cultural “Glauco Pinto de Moraes”.

Às vésperas de completar 25 anos, o anúncio do fechamento veio da Secretaria Estadual de Cultura, sob o argumento da contenção orçamentária anunciada pelo Governo Estadual. Junto com a de Bauru, mais 8 oficinas espalhadas pelo estado serão fechadas.

O comunicado do fechamento pegou de surpresa artistas e entidades que dependiam da Oficina para desenvolver suas atividades. A Secretaria do Estado da Cultura rebateu as críticas alegando que os projetos desenvolvidos pelo polo de Bauru serão absorvidos pela Oficina Cultural “Tarsila do Amaral”, sediada em Marília (100 quilômetros de Bauru), sem perda para o município. Porém, artistas ligados à Oficina garantem que não será bem assim, pois a proximidade com a coordenação permite o desenvolvimento de diversos projetos em entidades sociais que não têm condições de desenvolver sem o apoio da oficina. “Agora vai ficar bem acessível, não é? Porque Marília é logo ali”, ironiza o professor Alberto Pereira, regente do grupo Maracatu Abayomi e coordenador da Casa da Capoeira em Bauru. Além de engrossar o coro de artistas que se manifestavam pela Rua Batista de Carvalho com seu grupo, Alberto aponta também a deficiência da política que o Estado adota para tratar de questões relacionadas à cultura “Isso é um reflexo de como o governo pensa cultura. Eles querem nos preparar para consumir produtos culturais e não para produzir cultura”, pontua.

“Eu estava lá na inauguração, em 1990. Foi a primeira do interior. Fechar a Oficina é um crime”, indignada, a agente cultural Susana Godoy se juntou ao grupo e reafirmou a necessidade da cidade se levantar contra o fechamento. “Bauru precisa mostrar sua força, precisa ser respeitada”, disse.

Entre cartazes, roupas e maquiagens coloridas e adereços de todos os tipos, os cabelos vermelhos da atriz e dançarina Nadja Axcar também coloriam o protesto pacífico pelo centro de Bauru. Artista renomada na cidade, Nadja já deu aulas de dança na Oficina e alega que a transferência é um retrocesso. Segundo a atriz, a Oficina Cultural é o único lugar em que pessoas de poder aquisitivo mais baixo podem encontrar acesso a ações culturais. Indo ao seu encontro, a professora universitária Ana Beatriz de Andrade afirma que a presença da Oficina na cidade é um patrimônio que foi conquistado e precisa ser respeitado. “Bauru congrega inúmeros benefícios trazidos pela Oficina Cultural. Pessoas de todas as classes tem ali possibilidade de formação democrática”, pontua.

O Secretário Municipal da Cultura, Élson Reis, que esteve presente na concentração na Praça Machado de Mello, afirmou não ter recebido previamente o aviso sobre o fechamento e confia na sua reversão. A Oficina atende 45 municípios, muitos deles sem ter condições de ter projetos por conta própria”, reafirma.

O animado cortejo artístico marcou o início de uma série de ações contra o fechamento da Oficina em Bauru. Um grupo no Facebook foi criado, sob o nome de “Amigos da Oficina Cultural Glauco Pinto de Moraes”; lá, os artistas ativistas pedem à população bauruense que não permita o fechamento do espaço de difusão cultural e populares de todos os tipos deixam relatos sobre atividades realizadas na Oficina.

Logo após a manifestação no centro de Bauru, o Deputado Estadual Pedro Tobias, da base do governo, o também Deputado Estadual Celso Nascimento (PSC) e o Secretário Estadual da Agricultura, Deputado Arnaldo Jardim, colocaram-se à disposição da cidade para a luta. O prefeito Rodrigo Agostinho também se comprometeu a entregar um documento para o governador Geraldo Alckmin pedindo a reversão do fechamento.

“Só queremos fazer arte”, ilustrava um das dezenas de cartazes que coloriu o cortejo-protesto.

_DSC8961

_DSC8972

_DSC9038

_DSC9071

_DSC9072

_DSC9078-

 

Fotos: Heloísa Casonato