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Por Tiago de Moraes*

Estava no famoso ponto de ônibus da Frutal Lima, na quadra da Rodrigues Alves repleta de lanchonetes e barzinhos. Era uma segunda-feira nublada. O céu prometia temporal e as nuvens escuras vinham dos demais cantos da cidade. Ventava consideravelmente. Costumeiramente, estava de fones de ouvido. Rotineiramente, ouvia as mesmas músicas. No refrão de “Float”, música do Switchfoot que permeava a trilha sonora da semana, uma voz entusiasmada passava quase despercebida.

Até que senti uma puxada na minha mochila pesada. Virei. Era uma senhora com uma cara de espanto. Tirei os fones com a música tocando. “Moço, desculpa. Você se parece com o meu cunhado”. Ela riu da confusão e logo puxou assunto com o tema mais óbvio para uma primeira conversa entre desconhecidos. “Será que vai chover? ” Em defesa dela, ventava muito naquele momento. O céu na parte oeste da cidade estava tenebroso.

Conversamos sobre várias coisas. Concluímos que o aumento das tarifas do transporte coletivo era um absurdo. Depois ela compartilhou a importância da faculdade de teologia na sua formação crítica. “Agora, estou mais ligeira com as coisas”, dizia. Fui indagado sobre o estilo de vida dos jovens durante a graduação e escutei um breve sermão sobre responsabilidades.

O meu ônibus estava cinco minutos atrasado. O veículo que a senhora estava esperando também. Falamos sobre carros, motores e manutenção. Quando a conversa chegava em seu clímax, o ônibus dela finalmente havia chegado. Bruscamente como a vida. Despedi-me da senhora de forma cortês, porém sintética. Ela entrou no ônibus e seguiu com o seu dia. Eu segui com o meu. Para ela, vou ser sempre o cara que se parecia com o cunhado.

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Tiago de Moraes é estudante de jornalismo, músico, típico sobrinho de design gráfico e míope 24 horas por dia. Também é criador da ZACH e pesquisador em comunição (instagram: @moraestiago)
“O universo das pessoas minúsculas” (upm) se refere a pessoas comuns, com rotinas comuns, que aparentemente estão fora do palco de ação, diminuídas pelos desmandos políticos, injustiças e exclusão social. A ideia é trazer o universo dessas pessoas, reflexões,  bem como as pequenas ações que não ganham espaço nos noticiários, mas que  melhoram, de forma sensível, o espaço à sua volta.