No mês de conscientização sobre a prevenção do câncer, conheça um exemplo de quem já enfrentou a doença e hoje transmite alegria com o voluntariado
Camila (de óculo) superou a doença e hoje se dedica a alegrar a vida das pessoas. Foto: Arquivo Pessoal

Camila (de óculos) superou a doença e hoje dedica parte de seu tempo para “cuidar” de  pessoas. Foto: Arquivo Pessoal

Letícia Yoshimura/Colaboração  para o Círculo*

Camila, 33 anos, Bacharel em Tecnologia da Informação (TI) e estudante de pedagogia é casada e mãe de um menino de seis anos. Aos 30 descobriu o câncer de colo de útero. Ficou à espera da retirada para saber se era maligno ou benigno. Desde então decidiu fazer uma lista com os seus principais objetivos na vida e o primeiro foi o trabalho voluntário. Participou da ONG Cia Anjos da Alegria em Sorocaba-SP e atualmente é criadora da Contos & Travessuras, um projeto sem fins lucrativos que atende voluntariamente comunidades carentes, instituições e asilos beneficentes. São contadores de histórias que levam a fantasia a muitas pessoas e ao final de cada sessão os atendidos confeccionam e levam para seus respectivos lares artesanatos sobre a história contada, feitos pelos mesmos e com o auxilio dos voluntários: “A arte no nosso projeto é de extrema importância, a maioria das crianças levam para seus lares a lembrança da história, a maioria deles sofrem com a pobreza. Já os idosos vivem em situação de abandono social e familiar”, conta Camila.

 

O que incentivou para começar esse projeto?

Camila: Quando estive como palhaça na Cia Anjos da Alegria nossas visitas nos leitos não passavam de 10 a 15 minutos e notei a carência emocional de muitas pessoas, como eu estava me aprofundando na área de contação de histórias resolvi dar um passo a mais.

 

 

20161011_151111 Camila Albertoni venceu o câncer e hoje realiza trabalhos voluntários / Arquivo Pessoal


Camila Albertoni  em uma das ações com as crianças em seu trabalho voluntário. Foto:  Arquivo Pessoal

 

Você participou da Cia Anjos da Alegria, me conte um pouco sobre essa experiência.

Camila: Trabalhar com humanização hospitalar é gratificante, muitos tem preconceito quando se fala em palhaço em hospital, porém não é nada forçado. A figura do palhaço é para dar um colorido e trazer alusão à alegria.

 

E como foram essas visitas em hospitais?

Camila: É solicitada a permissão para cada paciente antes de adentrar nos recintos e muitas vezes há apenas conversas e músicas. Receber sorrisos de quem a um minuto estava com olhos marejados de dor é imensurável.  O atendimento é a qualquer um desde pacientes até à funcionários da limpeza, recepção, doutores e seguranças.

Há uma necessidade emocional de todos pois no ambiente hospitalar se encontram grandes tristezas e a presença diária do falecimento.

 

De certa forma isso influenciou para a criação do seu próprio projeto?

Camila: Sim, depois de um ano e dois meses onde fui inclusive vice-presidente da ONG (Cia Anjos da Alegria) e decidi que precisava de um novo caminho. Durante minha estada na Cia Anjos da Alegria me aprofundei no ramo de contação de histórias e fiz cursos, me encantei e me encontrei, tem tudo a ver com a área que estou estudando atualmente, que é Pedagogia.

Então resolvi criar uma nova história no meu livro da vida!

 

Onde vocês realizam as visitas e como você se sente após cada visita?

Camila: Realizamos nossas visitas em institutos que cuidam das crianças e adolescentes carentes em contratempo escolar, lares e abrigos de crianças e adolescentes que foram retiradas de suas famílias, asilos e creches ou CEIs municipais, tudo de forma voluntária.

 

Quantos se juntaram a causa até agora?

Camila: O meu intuito inicial era de fazer um projeto solo sem parceiros, mas surgiu a necessidade de uma companheira para ajudar principalmente na hora da arte. Depois notei outra necessidade, pois devido à grande solicitação de nossa presença precisávamos de mais uma pessoa para revezar, pois todas nós temos compromissos diariamente com emprego, estudos e filhos.

 

Surtiu o resultado que vocês esperavam?

Camila: A procura foi maior que esperávamos. O ramo de contadores de histórias cresceu muito nesse último ano, porém, atendem somente de forma remunerada e não voluntária.

Quanto o retorno das pessoas que atendemos é sem igual. Cada olhar e abraço recebido é surpreendente, a atenção, o silêncio numa sala com 50 crianças, todas atentas, isso não tem preço.”

 

Cada olhar e abraço recebido é surpreendente, a atenção, o silêncio numa sala com 50 crianças, todas atentas, isso não tem preço.

 

E quais são os maiores desafios que vocês encontram tanto na administração do projeto quanto a quem ele é oferecido?

Camila: A nossa maior dificuldade na administração do projeto são os materiais que necessitamos para a arte. Geralmente utilizamos papel EVA ou colorset e o número de crianças é grande, então não conseguimos tirar tudo de nosso bolso e dependemos de doação.

Nosso desafio durante à visita é atender a necessidade emocional de cada um, pois cada um traz uma história e mesmo sendo muitos para um eles tem expectativas voltadas à nós.

Uma coisa que notei é que há uma admiração muito grande quando se fala em trabalho voluntário, todos acham lindo. Entretanto, 98% diz não ter tempo ou tempo esse que muitos têm, mas não querem, vamos dizer, “dispensar” com o próximo.

Camila Albertoni, voluntária

 

Teve alguma história que te emocionou/encantou durante as visitas?

Camila: O encantamento deles nos encanta. Sempre vamos personalizados conforme a história que contamos. Se vamos contar a história da Joaninha e do Caramujo cada uma vai em seu personagem. As crianças sempre perguntam em qualquer instituição:

-Qual seu nome verdadeiro?

-Esses cílios são seus? (referindo-se aos cílios postiços longuíssimos e vermelhos da dona joaninha)

E por aí vão milhares de curiosidades…

Mas o melhor de tudo ocorre na despedida que dizemos que gostamos de abraços e quem quiser pode nos abraçar e assim vira um bolo de crianças sobre nós.

 

Em sua opinião, o que falta para projetos como estes terem mais abrangência e que mais e mais pessoas possam se juntar a essas causas?

 

Camila: Uma coisa que notei é que há uma admiração muito grande quando se fala em trabalho voluntário, todos acham lindo. Entretanto, 98% diz não ter tempo ou tempo esse que muitos têm, mas não querem, vamos dizer, “dispensar” com o próximo. Quanto à abrangência faltam voluntários mesmo, pois com um número maior de voluntários se abrange muito mais o trabalho.

 

 

IMG-20161011-WA0053

Camila enfim descobriu que seu câncer era benigno e continua fazendo trabalho voluntário e pretende expandir o Contos & Travessuras futuramente. Foto: Arquivo Pessoal

Para aqueles que querem se juntar a qualquer projeto de voluntariado, quais seriam os requisitos na sua experiência?

Camila: Primeiramente o comprometimento, esse é o principal! Tudo é feito antecipado com base na agenda de cada voluntário, ou seja, se você está disponível e escalado para um trabalho não se pode pronunciar a falta em cima da hora ou deixar de ir, pois estamos contanto com isso. Os demais requisitos é respeito, educação, tolerância, paciência e amar ajudar.

 

Para finaliza, resuma em uma só palavra tudo isso.

Camila: Realizada!

 

SERVIÇO:

Para quem quiser saber mais sobre o projeto voluntário desenvolvido por Camila, oferecer doações e parcerias é só entrar em contato pelo e-mail camila.luther@hotmail.com ou entrar na página no Facebook: Contos & Travessuras.

 

Letícia Yoshimura é estudande de jornalismo da Universidade do Sagrado Coração. A atividade de entrevista foi desenvolvida na disciplina de Técnica de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística.