Grupo Jovem da Igreja São José Trabalhador realiza ação solidária e distribui comida e bebida para moradores de rua de Bauru. Foto: Reprodução / Facebook

 

Amanda Medeiros / Círculo

Agradecimentos: Paróquia São José Trabalhador e Grupo de Jovens ‘Agnus Dei’

O Evangelho de João, capítulo 6, versículos 1-13 narra o episódio da multiplicação dos pães por Jesus para saciar a fome do povo. É justamente com o objetivo de minimizar a fome de moradores de rua de Bauru que jovens do ‘Agnus Dei’, um grupo da Paróquia São José Trabalhador, realizam ao menos uma vez por mês, a distribuição de alimentos. Só este ano a iniciativa já alcançou 130 pessoas.

Ações comunitárias deste tipo são realizadas desde 2012. Segundo Thiago Sabatini, que integra a coordenação do grupo, o motivo de criarem iniciativas externas aos encontros semanais é muito simples: buscar ações concretas em relação com o que aprendem em sala. “Existe uma grande diferença entre falar e praticar Jesus Cristo”,  afirma.

Carina Nascimento, coordenadora do Grupo de Jovens há dois anos, acredita que as ações solidárias que promove são baseadas no que Jesus deixou: amor. Ela sustenta que os ensinamentos devem ser colocados em prática: “Não podemos deixar isso só no papel. Uma forma de pôr em prática os ensinamentos do Evangelho é levar comida e palavras de conforto aos moradores de rua. Nós sabemos que não vamos resolver o problema mas é uma forma deles se sentirem mais confortáveis pois sofrem muito preconceito”. Sobre a rota da caminhada, Carina revela que é o Espírito Santo que os guia.

Os alimentos são comprados com dinheiro arrecadado pelos jovens em iniciativas como a venda de bolos e preparados antes de cada ação na cozinha da paróquia. Em média, os jovens gastam cerca de R$60 por ronda e atendem 30 moradores de rua. “Normalmente levamos pão com manteiga ou mortadela, café e leite. A meta é a de sempre voltarmos com nada”, diz Thiago. “A rodoviária e a praça Rui Barbosa são pontos muito recorrentes no roteiro da ronda, pois a presença de moradores de rua nesses locais é constante”, ressalta Thiago.

Grupo de Jovens ‘Agnus Dei’( Cordeiro de Deus,  traduzido do latim) realiza ação em dia chuvoso. Foto: Reprodução / Facebook

 

Arte: Amanda Medeiros

 

DADOS ALARMANTES

Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com base em dados de 2015, indica que o Brasil tem pouco mais de 100 mil pessoas vivendo nas ruas. O levantamento apresenta estimativa da população em situação de rua no Brasil com base em dados disponibilizados por 1.924 municípios via Censo do Sistema Único de Assistência Social (Censo Suas).

Outros números também impressionam. Um documento da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado na Rio -20a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada de 13 a 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro, alerta que não há comida suficiente no mundo para alimentar todos. Os dados apontam que 925 milhões de pessoas ainda passam fome. “No centro do problema estão a pobreza e a falta de poder, que impedem o acesso a alimentos nutritivos. Esta situação é agravada pela degradação constante dos solos, da água doce, dos oceanos e da biodiversidade. Uma grande reforma do sistema de alimentação e de agricultura é necessária para garantir segurança alimentar para cerca de um bilhão de pessoas que atualmente sofrem com a fome e suportar o crescimento estimado de dois bilhões da população mundial até 2050”, destaca o relatório.

A reportagem do Círculo procurou a Secretaria de Bem Estar Social (SEBES) de Bauru em busca do número de moradores de rua da cidade, mas até o momento não recebeu respostas.

Segundo dados das Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil, aproximadamente um terço (30%) do alimento que é produzido no mundo é desperdiçado ou perdido. O desperdício chega a  1,3 bilhão de toneladas por ano.

 

‘Pois tive fome, e me destes de comer, tive sede, e me destes de beber; fui estrangeiro, e vós me acolhestes. Quando necessitei de roupas, vós me vestistes; estive enfermo, e vós me cuidastes; estive preso, e fostes visitar-me’ (Mateus, 25,35-36)

 

MUDANÇAS DE PERSPECTIVA

Carina Nascimento em entrevista. Foto: Amanda Medeiros

 

 

“A importância em participar dessas ações é imensurável. Todo ser humano deve se despojar e ajudar ao próximo, isso faz bem para a alma. Esse pensamento egoísta de uma sociedade cada vez mais tecnológica em que nunca temos tempo para nada não nos deixa ter essa experiência. A visão que temos do mundo muda pois entramos na realidade dos moradores de rua e conhecemos o porque deles estarem ali”, segundo Carina.

 

 

Bruna Folego em entrevista. Foto: Amanda Medeiros

 

 

Bruna Bendzius Folego, 18 anos, frequenta o grupo desde 2012 e reforça o incentivo das ações sociais. “É importante porque a gente exercita o nosso lado humano. Se Jesus Cristo compartilhou o pão, porque nós não podemos fazer isso? É maravilhoso porque a maioria dos moradores de rua só querem carinho e atenção. Como pessoa e principalmente como cristã, é um exercício maravilhoso de caridade e de nos colocarmos no lugar do outro conforme diz o segundo mandamento: ‘amai o próximo como a si mesmo’”.

 

 

Caio Jandreice em entrevista. Créditos: Bruna Folego

 

 

Caio Henrique Ferreira Jandreice, 18 anos, acredita que o grupo tem papel essencial no fortalecimento da formação espiritual. O estudante, que comparece às reuniões desde o começo do ano,  já participou de todo o processo de preparação da comida. “Ao ver os moradores de rua, a vontade de fazer os outros se sentirem melhor cresce”, afirma.

 

 

 

Thaís Helena em entrevista. Créditos: Bruna Folego

 

Thaís Helena de 16 anos, participante do grupo de jovens desde o final do ano passado, quando recebeu o convite de uma amiga. Além da oportunidade de conhecer pessoas, as ações têm permitido ampliar horizontes.  “Depois que ouvimos as histórias deles (moradores de ruas) e paramos para prestar atenção, vemos eles são pessoas e merecem respeito como todos os outros”, diz.

 

Para Thiago, este sentimento é partilhado por todos: “O ato de ajudá-los nos dignifica como pessoas e nos faz entender que a vida não tem sentido se não ajudar os outros que precisam”.

Thiago Sabatini em entrevista. Créditos: Bruna Folego

 

Padre Milton em entrevista. Foto: Amanda Medeiros

Para Milton César Carraschi, padre da Paróquia localizada no bairro Vila Industrial e criada em dia 25 de dezembro de 1994, dia de Natal, o mais importante em participar dessas ações é conscientizar os jovens: “Eles são muito sensíveis às questões sociais, mas nem sempre tem o poder de fogo para ajudar. A grande tacada disso é mostrar para o jovem uma realidade de dor, dificuldade e miséria que existe no nosso mundo”. O pároco ressalta que distribuir os alimentos aos moradores de rua não resolve o problema, mas ajuda a sensibilizar os jovens a ter uma tendência de olhar o próximo: “Eles não ficam apenas reunidos discutindo o Evangelho, eles vão à campo ajudar os que precisam. Com isso, damos identidade à pessoa, consciência de pertença e por extensão também a cidadania, não só na perspectiva religiosa, mas também social”.

 

 

 

Paróquia São José Trabalhador. Foto: Reprodução / Facebook

 

 

Padre Milton em entrevista. Foto: Amanda Medeiros

 

Em consonância com o que discursa Thaís, padre Milton considera a igreja a melhor opção para o jovem: “ele (o jovem) tem carência de espiritualidade e de sentido para a sua existência e em uma sociedade degradada e imoral como é a que nós vivemos hoje, o jovem fica perdido e vai procurar respostas em lugares errados. A família deve ser o pilar da educação para a juventude, auxiliada pelos valores morais. Neste sentido, o caminho é de fato buscar a igreja que tem o que oferecer quer seja na perspectiva de identidade, do respeito e da moral. O jovem que foi educado dentro da igreja, dificilmente será deseducado pela droga, por exemplo. A igreja tem algo para oferecer ao jovem que busca um sentido verdadeiro para sua existência”.

 

 

 

Grupo Jovem em reunião. Foto: Reprodução / Facebook

 

 

Carina e Thiago reconhecem que é difícil tirar o jovem de casa para ir à igreja em um sábado à noite, mas reforçam dois pontos: Jesus Cristo não tem horário e um ato concreto vale mais que uma palavra dita. O coordenador explana: “É possível ser jovem sem deixar de ser santo. Não temos muitos jovens, mas os que vêm possuem espírito bom e essa é a essência do grupo: formar seres humanos pensadores dos problemas da vida.”

 

Além de comida, o Grupo de Jovens distribui algo que os moradores de rua sentem falta: esperança.

 

PAPA FRANCISCO E OS JOVENS

A paróquia São José Trabalhador e o Grupo de Jovens ‘Agnus Dei’ estão de acordo com a ‘igreja em saída’ instituída pelo Papa Francisco. Thiago questiona: “Se a igreja está em saída, porque estou em casa? Quando você deixa Jesus Cristo entrar, Ele te transforma. Quando a frase ‘Cristo vive em mim’ fizer sentido para você , sua missão na Terra estará completa”. O pároco Milton também pontua que a igreja é importante para a juventude e deve buscar o jovem.

O fato do jovem ser dinâmico, intensifica a realização de ações práticas externas às reuniões do Grupo. Os coordenadores do ‘Agnus Dei’ deixam o convite e estão de braços abertos para os que se interessarem em participar.

 

SERVIÇO

A Paróquia São José Trabalhador fica na rua Domingos Bertoni, 5-10 no bairro Vila Industrial. A secretaria fica aberta para o atendimento ao público de segunda à sexta-feira das 9h às 12h e das 14h às 18h. Aos sábados a secretaria abre apenas das 8h às 12h. Para mais informações, ligue para (14) 3238-2871 ou mande um e-mail para: sjtrabalhador@yahoo.com.br.

HORÁRIO DAS MISSAS

  • Todo domingo às 8:30h e às 19:30h 
  • Toda 1ª sexta-feira do mês às 19:30h
  • Toda 4ª quarta-feira do mês às 20h (Missa de Cura e Libertação)

 

O Grupo de Jovens ‘Agnus Dei’ se reúne todo sábado às 19h na Paróquia São José Trabalhador. Para mais informações, acesse a página do Grupo no Facebook.

 

Assista ao vídeo que descreve o processo realizado pelo Grupo Jovem ao distribuir comida aos moradores de rua: