Cena do documentário ‘Clandestinas: 28 dias para a vida das mulheres’, que trata sobre aborto e seus impactos na vida das mulheres. Foto: Reprodução/Divulgação

 

Amanda Medeiros / Círculo

20% das brasileiras terão feito ao menos um aborto ilegal ao final da vida reprodutiva, ou seja, uma em cada cinco mulheres aos 40 anos terá abortado ao menos uma vez. Dado sustentado pela Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) 2015, quantifica que 417 mil mulheres nas áreas urbanas do Brasil interromperam a gravidez, número que sobe para 503 mil se for incluída a zona rural.

Aborto é caracterizado pela retirada do feto do ventre materno antes que complete 40 semanas. A interrupção da gravidez pode ocorrer de duas formas: espontânea e induzida. A espontânea se exibe com a má formação da criança, que não é capaz de sobreviver até o fim da gestação. Já a induzida, ocorre devido a ingestão de remédios ou curetagem, procedimento cirúrgico em que há a raspagem da parede uterina para a retirada do embrião.

No Brasil, o aborto é considerado crime contra a vida humana previsto no Código Penal desde 1984. Entretanto, a lei não o qualifica como crime em apenas em três situações: quando a gravidez representa risco de vida para a gestante, quando a gravidez é fruto de um estupro e quando o feto for anencefálico, ou seja, não possuir cérebro. As gestantes que se enquadrarem em uma dessas três situações tem respaldo do governo para obter gratuitamente o aborto legal através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Por outro lado, as mulheres que não se encaixarem nessas condições estão sujeitas a condenação judicial. Portanto, as clínicas clandestinas são a solução encontrada por aquelas que não desejam conceber um filho em determinado momento da vida.

Com a criminalização do aborto, mulheres morrem em decorrência de complicações dos procedimentos efetuados em locais não especializados, segundo dados do Ministério da Saúde. O debate sobre o assunto permanece vivo até hoje, em que a legalização do aborto para determinada parcela do número de mulheres é mais que essencial.

 

Confira abaixo a indicação do Círculo, que trata sobre aborto e seus impactos na vida das mulheres.

 

Clandestinas: 28 dias para a vida das mulheres (2014)

Foto: Reprodução/Divulgação

Com o apoio da International Women’s Health Coaltion e do Serviço de Orientação à Família (SOF) de São Paulo, a diretora brasileira Fádhia Salomão faz um panorama da situação das mulheres que abortam ilegalmente no país. Intercalando experiências reais e atrizes interpretando textos de mulheres anônimas, o documentário exibe os relatos de desde a descoberta da gravidez até o momento do aborto.  

Roteirizado por Renata Corrêa, o curta-metragem provoca a reflexão sobre a criminalização do aborto em casos que não envolvem violência sexual e como o assunto é abordado nas terras brasileiras.

Assista ao documentário:

Uma história severina (2005)

Foto: Reprodução/Divulgação

O documentário, dirigido pela antropóloga Débora Diniz e jornalista Eliane Brum, conta a história de Severina Maria Leôncio Ferreira, pernambucana que aos quatro meses de gravidez descobriu que seu feto era anencéfalo. No dia 20 de outubro de 2004, Severina internou no hospital de Recife para interromper a gestação, mas na mesma tarde em que realizava os procedimentos médicos para a cirurgia que seria feita na manhã seguinte, o Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou a liminar que permitia a antecipação do parto quando o bebê fosse incompatível com a vida.

Casada com um lavrador de brócolis e mãe do Walmir, de 4 anos, Severina decide recorrer à Justiça para realizar o aborto. O processo durou longos três meses e custou ao casal dias de angústia. 

No parto, o sofrimento continua. A pernambucana suportou mais de 30 horas de contrações até conceber a criança, que nasceu morta. Severina saiu do hospital com um atestado de óbito e inconformada por ter que enterrar o filho. 

Assista ao documentário: