Cena do desenho animado “Cinderela”, da Disney. Foto: Divulgação

Amanda Medeiros / Círculo

A invenção de histórias para satisfazer o interior do indivíduo influencia diretamente na construção de contos infantis como Branca de Neve, em que a idealização de seus imaginários reforça a banalização da utopia. A inutilidade em crer nessas fantasias irrealizáveis é evidente, pois se reafirma em contos de fadas.

A utopia erige-se, portanto, como um lugar tão perfeito quanto feliz, em que indivíduos acreditam que a desarmonia social, proveniente da ordem vigente, não exista mais. A crença nestas fantasias se deve pelo sentimento de preenchimento do vazio existencial presente no ser, como emerge a teoria do filósofo polonês Zygmunt Bauman, tão bem exemplificada no filme ‘Riquinho’, cujos personagens de diferentes camadas sociais são exibidos de forma uniforme e sem distinção.

 

Os ideais utopistas se evidenciam pela moda e mídia, moldando o modo de pensar e viver do cidadão, como sustenta o filósofo francês Gilles Lypovetsky: longas-metragens, como o filme ‘A Onda’, exibem a violência e o abuso moral para se atingir uma sociedade justa e igualitária. Por fim, a inutilidade destes feitos corroborou para a vulnerabilidade dos que não apoiam estes ideais.

A crença em um mundo perfeito ecoa para uma desilusão coletiva, em que governos autocráticos, nazistas e fascistas, por exemplo, empoderam e sobrepõem-se à sociedade como um todo. A espetacularização destes ideais ufanistas e pujantes, como endossa o filósofo francês Guy Debord, extrapola o bom senso da convivência entre os diferentes.

Holisticamente, a utopia é um acúmulo de sonhos inúteis promovidos pela negação da realidade. A lascívia da obtenção de um local prazeroso e harmônico preenche seres tão ególatras quanto mesquinhos com fantasias e ilusões.