Cena do longa-metragem ‘A Onda’, que é a indicação de filme para esta semana. Foto: Reprodução/Divulgação 

 

Amanda Medeiros/Círculo

O termo ‘totalitarismo’ foi cunhado pelo filósofo e jornalista italiano Giovanni Amendola, morto à pauladas por fascistas, e que define o regime totalitário como “auge de um processo onde um indivíduo ou partido político passa a controlar o Estado”. O conceito, tendo como base os governos ditatoriais de Adolf Hitler, na Alemanha (1933-1945), Josef Stalin, na Rússia (1922-1953), e Benito Mussolini, na Itália (1938-1945), também assume o Estado como gestor da esfera privada, exercendo absoluto domínio sob as empresas, e, consequentemente, sob a população. 

Camila Betoni, graduada em Ciências Sociais, em seu artigo publicado no site InfoEscola, enxerga que o totalitarismo tem “a capacidade de embrenhar-se em todo o tecido social, exercendo poder em todas suas partes”, em consonância com a premissa sustentada por Amendola que existe, no mínimo, há 80 anos. Além disso, o conceito e o que o cerceia é discutido por profissionais da comunicação até os dias atuais. “O Estado não pode ser forte a ponto de não permitir aos cidadãos a possibilidade de fazer escolhas e responder por elas civil e criminalmente”, conta o publicitário Jorge Maranhão em seu artigo  publicado no site Congresso em Foco a respeito da obra ‘As Origens do Totalitarismo’, de Hannah Arendt, brilhante escritora que esclarece o totalitarismo e questões relacionadas à ele, como o antissemitismo e imperialismo. 

Atrelado aos regimes totalitários, que também se fizeram presente em Portugal com António de Oliveira Salazar (1932-1974), na Espanha com Francisco Franco Bahamonte (1939-1976) e ainda no Brasil com o Estado Novo de Vargas (1937-1946) e com o golpe militar (1964-1985), está o uso excessivo da força militar para reprimir os opositores, ausência de eleições (ou a exterminação delas), censura e controle dos meios de comunicações e a disseminação de propagandas governamentais que exaltam a figura do líder. Todas essas medidas enfraquecem a democracia e parecem anestesiar a sociedade. 

 

NA ATUALIDADE

Está errado quem acredita que esta discussão ficou no século passado. É possível identificar traços de governos autoritários na contemporaneidade, sinal extremamente alarmante visto que avanços tecnológicos e bélicos podem tornar guerras mais próximas do que se imagina. 

Eugênio Bucci , jornalista e professor, em um artigo de sua coluna no site da revista Época, comenta que quando a política se afasta dos fatos, ela se torna fanatismo, regido pelo governante em exercício, e, no caso mencionado por Bucci, o presidente norte-americano Donald Trump se encaixa perfeitamente nesta conjuntura. 

Tomando o princípio de que o jornalismo seria “o cão de guarda da sociedade”, como sustenta o professor em seu livro ‘Sobre ética e imprensa’, a mídia é inimiga mortal de Trump, uma vez que busca desvelar as verdades, investigar os fatos e criticar o poder. “Trump dá todos os sinais de não suportar que alguém verifique se o que ele está dizendo é verdade ou mentira. Ele não lida bem com os princípios mais elementares da instituição da imprensa. Com a mesma virulência com que segrega os estranhos (e manda erguer um muro na fronteira com o México) e defende a tortura de prisioneiros, ele fustiga em voz alta repórteres e editores. Para Trump, os americanos patriotas são aqueles que acreditam nele, somente nele, e não fazem perguntas”, considera Bucci em seu artigo. 

Em momentos de instabilidade econômica, política e social, o papel da mídia se faz mais que necessário para que governos totalitários não deem as caras novamente. É indispensável que a imprensa possa atuar na checagem dos fatos, para que assim, o povo tenha parâmetros para identificar a verdade no meio das mentiras. 

Confira abaixo a indicação de filme do Círculo para essa semana, que fomenta o debate sobre totalitarismo e sua existência nos dias atuais!  

A Onda (2008)

Cartaz de divulgação do filme ‘A Onda’. Foto: Reprodução/Divulgação

 

“A ditadura seria possível nos dias de hoje?” É a partir desta questão que o filme alemão discorre ao longo de seus 108 minutos. Baseado em fatos reais, a história gira em torno de uma aula sobre autocracia, em que os alunos são, em sua maioria, a terceira geração pós 2ª Guerra Mundial. 

A resposta dos alunos para a questão levantada pelo professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é unanimemente não, uma vez que a povo perceberia o que está acontecendo e impediria a instalação do regime ditatorial. Nessa linha de raciocínio, para exemplificar aos estudantes como é fácil manipular a população em massa, o professor propõe um experimento. 

É com pequenas ações como sentar corretamente, levantar-se para perguntar e ser pontual, que o movimento criado pelo professor e intitulado ‘A Onda’ pelos estudantes, vai tomando forma. Os alunos passam a se sentir parte de um grupo, eliminando as diferenças que possuem e se tornando um só. O professor também é arrastado pela onda, devido à sensação de poder por ser o líder do movimento, que acaba indo além das paredes da escola.

 

O experimento original que inspirou a criação do filme foi nomeado ‘Terceira Onda”. A ideia veio do que acontece nas praias, em que as ondas viajam nas correntes, e a terceira onda, além de ser a última, é a maior de cada série.

 

Fica evidente que o experimento proposto por Wenger toma proporções que nem mesmo ele poderia imaginar, colocando em xeque a resposta dada pelos alunos no início da aula.

Confira o trailer: