O aluno do curso de Jornalismo, Denis Eric, orientado pela professora Daniela Bochembuzo, desenvolveu uma grande reportagem radiofônica para sensibilizar a população sobre o assunto. O trabalho foi apresentado à banca composta pelos professores Vinicius Carrasco e Sônia Cabestré,  no dia 06 de novembro de 2017.  Foto: Arquivo Pessoal / Facebook

Amanda Medeiros / Círculo 

O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não-melanoma, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).  No Brasil, foram 61.200 diagnósticos em 2016, de acordo com a instituição, graças à evolução dos exames, melhoria da qualidade de informação no país e aumento da expectativa de vida.

O INCA também constatou que a taxa de incidência do câncer de próstata é maior nos países desenvolvidos do que nos emergentes. A doença, que pode se agravar a partir dos 50 anos de idade, é considerada o ‘câncer da terceira idade’, uma vez que três quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos de idade.

Para se ter uma ideia, em 2013, o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) contabilizou cerca de 13.772 mortes causadas por esse tipo da doença.

 

DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE PRÓSTATA A CADA 100 MIL HABITANTES NO BRASIL de Amanda Ferreira Medeiros

 

Os números alarmantes chamaram atenção do aluno do último ano do curso de Jornalismo da Universidade do Sagrado Coração (USC), Denis Eric de Jesus, que produziu em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), uma grande reportagem intitulada “A informação radiofônica como forma de sensibilizar os ouvintes sobre a prevenção ao câncer de próstata”.  Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM 2015), da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (SECOM), um levantamento quantitativo domiciliar sobre os hábitos de consumo de mídia pela população brasileira, constatou que o rádio é ouvido por 55% da população e é a ainda o segundo meio mais utilizado pelos brasileiros, depois da televisão, mesmo em tempos do avanço da internet. De acordo com os dados, 63% das pessoas se informa através do rádio.

Denis Eric de Jesus nos contou um dos motivos para realizar seu trabalho “Foi justamente o fato do tema ser um tabu. Pouco se fala durante todo o ano. Só no mês de novembro que existe uma forte campanha para conscientização do homem, porém acredito que ainda é pouco. É necessário a disseminação de mais informação e minha grande reportagem vem contribuir nesse sentido.” O jornalista relata que quando criança, seu avô faleceu por conta do câncer de próstata e hoje entende a gravidade do problema. “Passei a compreender melhor essa realidade da doença, dos homens em relação aos cuidados com a saúde e do preconceito que existe.”

A importância do trabalho é imensurável, segundo Denis. “Quando você se dedica a pesquisar um tema, sai com uma bagagem muito maior de quando você começou. Seja em aspectos pessoais, como estudante ou futuro profissional, o aprendizado é gigantesco.” E acrescenta que foi gratificante ver a ideia se tornando realidade “Vi que as pessoas gostaram do tema durante e após a produção do produto, apoiaram e outras participaram para realização desse trabalho sem preconceito e sempre buscando agregar. Sem dúvida, não só pelo fato de fazer parte da finalização de um ciclo que é a graduação, mas também como homem foi um trabalho fundamental para a minha conscientização.” 

Denis também ressalta que a produção do TCC foi complexa e que conversar com médicos que tivessem disponibilidade para falar com profundidade sobre o câncer de próstata foi uma das grandes dificuldades que enfrentou no decorrer do processo, uma vez que sempre havia prazos a serem cumpridos. Em contraposição, encontrar homens que têm a doença foi fácil graças à ajuda de uma amiga que lhe apresentou um grupo de voluntários do câncer em sua cidade, Barra Bonita. O jornalista conclui “Acredito que o problema dos homens não é falar sobre o problema, e sim em fazer a prevenção da doença. Essa é a maior dificuldade e é o que meu trabalho busca: ‘conscientizar para amenizar essa falta de cuidado causado pelo preconceito e machismo’.”

A professora Daniela Pereira Bochembuzo, orientadora do TCC de Denis, conta que avaliou desde o início a relevância do tema e a relação entre o número de mortes, desinformação e preconceito. Além disso, a ausência de pesquisas específicas e bibliografia reduzida foram alguns dos obstáculos que tiveram que ser superados.

Bochembuzo comenta a pertinência do trabalho voltado para o meio radiofônico “O rádio é um dos meios mais democráticos que existe. Historicamente, seu uso social está atrelado à prestação de serviço e à orientação do ouvinte. Nesse sentido, é o meio mais indicado para transmitir informações, de forma concomitante, de longo alcance a muitas pessoas ao mesmo tempo, sobre o câncer de próstata, doença que afeta milhares de brasileiros todos os anos, a despeito da classe social e orientação sexual. Ademais, a área de comunicação e promoção da saúde preza por informar e orientar o receptor a respeito de questões de saúde, permitindo a essa pessoa buscar formas de se prevenir ou buscar tratamento para doenças. Daí a opção pelo formato grande reportagem, que permite o aprofundamento da questão por meio de tratamento jornalístico calcado em discurso simples, didático e composto por vários olhares.” 

A professora finaliza dizendo que os objetivos foram alcançados e que a grande reportagem será exibida na Webrádio, projeto de extensão da USC que coordena. Outras emissoras de rádio comunitárias também irão integrar a divulgação.

Em entrevista a Denis Eric, em seu TCC, o urologista Aparecido Donizeti Agostinho acredita que as campanhas que o Governo incentiva são importantes e que fomentam a saúde, mas que a concepção ainda é muito preventiva e pouco curativa, ou seja, preocupam-se em tratar ao invés de prevenir.  O médico ressalta que um em cada oito homens desenvolverá a doença se ultrapassar o limite dos 80 anos de idade.

Sobre os fatores que influenciam no surgimento da doença, Aparecido aponta “Quando ficamos mais velhos aumenta a chance de desenvolvimento da doença. Não se sabe exatamente, o motivo do desenvolvimento do câncer. Podem existir mudanças genéticas hereditárias, como alterações no DNA que acabam levando o desenvolvimento do tumor, mas essas são relativamente raras, apenas 5% a 10%. Na maioria dos casos, estima-se que ocorram mutações genéticas adquiridas que podem ser desenvolvidas por alterações hormonais e alterações inflamatórias.” Em relação aos aspectos sociais que dificultam o tratamento e a cura da doença, o urologista cita que o grande problema é a acessibilidade aos serviços de saúde, situação que está relacionada à questões financeiras. 

Valdir de Sousa, 54 anos, é aposentado e também concedeu entrevista para grande reportagem. Desde os 42 anos ele se cuida em relação ao câncer de próstata, e, aos 52, foi diagnosticado.  O aposentado não sentia nenhum sintoma, mas foi no exame de Antígeno Prostático Específico (PSA) que apareceram os primeiros sinais. Valdir revela que nunca teve preconceito com a doença e que a trata até hoje, um ano e meio após a cirurgia de retirada total da próstata. Ele confessa que tudo mudou em sua vida devido às limitações que vieram junto à doença, mas que vale a pena passar por cima das brincadeiras para cuidar da saúde. Valdir encerra a entrevista com um fato triste “Durante o período de tratamento, perdi três amigos para o câncer.”

 

Ouça a Grande Reportagem!

 

CAMPANHA NOVEMBRO AZUL   


Imagem da campanha Novembro Azul. Foto: Divulgação / Reprodução

A incidência e a necessidade de prevenção faz com que anualmente o mês de novembro seja destinado ao combate do câncer de próstata. Hoje, o Novembro Azul é a maior campanha contra esse tipo da doença no calendário nacional de prevenção. Em Bauru, diversos meios de comunicação apoiam a causa e divulgam conteúdo voltado à prevenção da doença e conscientização da comunidade. 

A campanha surgiu em 2003, na Austrália, e era intitulada “Movember“. Só em 2007 chegou no Brasil (iniciativa do Instituto ‘Lado a Lado’) com o objetivo de conscientizar a população sobre a prevenção do câncer de próstata e promover a mudança de paradigmas em relação à ida do homem ao médico. A doença ainda sofre preconceito, mas a campanha promete quebrar os tabus existentes na sociedade.

Apenas na edição de 2015, segundo dados do site oficial do Instituto, o grupo impactou aproximadamente 87 milhões de pessoas em todo o Brasil por meio de 463 ações, além de ter iluminado 37 prédios e monumentos do país. A campanha lembra a importância dos exames preventivos, oferece palestras e conta com o apoio de personalidades brasileiras de destaque.

 

Aspecto Clínico

A próstata é uma glândula que só o homem tem e se localiza na parte baixa do abdômen, mais precisamente logo abaixo da bexiga e à frente do reto. Esta glândula produz parte do sêmen e envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada.

Em sua fase inicial, o INCA alerta que os sintomas são quase inexistentes e se assemelham ao crescimento benigno da próstata: dificuldade ao urinar ou necessidade de ir ao banheiro frequentemente. Não se engane! Na fase avançada, pode provocar dor óssea, infecção generalizada e até insuficiência renal.

O tratamento depende do estágio do câncer. Para a doença localizada, a cirurgia e a radioterapia podem ser oferecidas. Se a doença está avançada, as duas opções anteriores juntamente com o tratamento hormonal têm sido utilizadas. Por outro lado, se o câncer já se espalhou para outras partes do corpo (doença metastática), o tratamento de eleição é a terapia hormonal. Não se esqueça: consulte um médico! Só ele saberá informar qual a melhor medida a ser tomada em cada caso.

Uma dieta rica em frutas, legumes, cereais e menos gordura de origem animal ajuda a diminuir o risco de câncer, assim como outras doenças não-transmissíveis. Se exercitar por no mínimo meia hora por dia, diminuir o consumo de álcool e não fumar também são recomendações para a prevenção do câncer de próstata. Vale lembrar que a idade é um fator de risco importante, pois as taxas de incidência e mortalidade aumentam a partir dos 50 anos.